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Cisne Negro e o Uso de Cores Como Narrativa

  • Foto do escritor: Guilherme Bambace
    Guilherme Bambace
  • 31 de mar. de 2022
  • 3 min de leitura


As cores contam histórias. Desde o começo do cinema, elementos diversos como cenário e figurino foram usados como forma de acompanhar as histórias que se passam pelas telas. As cores carregam um significado claro na nossa sociedade, com cada uma representando uma emoção, um sentimento distinto. Verde é muitas vezes relacionado com inveja, enquanto amarelo é associado à felicidade. Mas como esses significados podem relacionar-se com temas cada vez mais complexos? E como as cores podem se conectar umas com as outras para contar essas histórias visualmente? Hoje veremos como exemplo o filme Cisne Negro, e como seu uso de cores se interliga com os temas principais da trama.


Cisne Negro é um suspense psicológico de 2010 dirigido por Darren Aronofsky, estrelando Natalie Portman e Mila Kunis. Foi um sucesso inesperado, sendo indicado a cinco Oscars e ganhando na categoria de Melhor Atriz. O filme conta a história de Nina, uma bailarina que sonha em protagonizar o famoso balé O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky. Sendo escolhida para o papel da Rainha dos Cisnes, que precisa dominar tanto a perfeição técnica do Cisne Branco quanto a agressividade crua do Cisne Negro, Nina começa a ter sua saúde mental afetada pelo custo de ser perfeita.


Antes mesmo de qualquer diálogo entre personagens, o começo do filme já deixa claro o estado mental em que a personagem principal, Nina (Natalie Portman), se encontra. Ela é uma adulta que vive presa na juventude, algo que é refletido pelo cenário e, mais sutilmente, pelas cores: seu quarto é decorado como o de uma criança, com vários animais de pelúcia e flores espalhados por cada canto. Seu papel de parede (florido, é claro) é quase inteiramente rosa, assim como o seu tapete e até sua roupa de cama. Assim como mostrado em seu quarto, o guarda roupa de Nina também conta com a presença dominante de duas cores: rosa e branco. Na nossa cultura, o branco é uma cor símbolo de pureza, virgindade, enquanto o rosa já remete à inocência, características principais da personagem.



A bailarina rival de Nina, Lily, é vista pela primeira vez vestida em apenas uma cor: preto. Ela é apresentada como o completo oposto de Nina: enquanto Nina consegue captar perfeitamente a essência do Cisne Branco, Lily é a representação clara do Cisne Negro, que tem como a cor símbolo do perigo e rebelião. Nina consegue o papel principal, mas a ameaça de falhar como o Cisne Negro continua presente, sempre lembrando-a de que ela ainda não é perfeita.



Ao longo do filme, Nina começa a ser seduzida pela ideia do Cisne Negro. Sua vida não é mais tão simples, tendo uma pressão constante para atingir seu máximo potencial. Seu estado mental é então refletido em seu figurino, com ela passando a usar a cor que representa exatamente a luta entre o preto e o branco: cinza. Como o vídeo "Black Swan Color Analysis" de John Greska aponta, ela não é mais tão pura quanto era no começo do filme, mas ainda não aceitou por completo a paixão e o perigo representados pelo preto. Ela ainda não consegue ser o Cisne Negro.



Por fim, Nina é finalmente capaz de se afastar do branco por completo: ela vai com Lily para uma boate uma noite e, ao se arrumar, cobre sua camiseta branca colocando uma preta por cima. Ela bebe, usa drogas e faz coisas que antes nunca teria feito. A cor preta então passa a ser a única a ser usada no figurino da personagem. E, nos últimos momentos do filme, quando Nina se transforma no Cisne Negro na estreia do balé, ao invés de terminar com um fade out para o preto, o filme acaba com a cor branca tomando conta da tela: o futuro de Nina é incerto, mas o Cisne Branco morre. Ela deixa sua inocência morrer, e por fim se torna adulta.


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